sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Integralidade nas politicas de saude mental

Abordaremos a integralidade no contexto do que chamamos de “os novos paradigmas da 
atenção em saúde mental”. Ao discutir a integralidade, levando em conta o referencial acima 
delineado, vamos trabalhar a natureza do cuidar e duas questões que obrigatoriamente 
compõem essa natureza: oferta/seleção e inclusão/exclusão. 
Iniciaremos exemplificando a prática usual a ser superada, pois nela a seleção é o critério 
básico da oferta de programas: até há pouco tempo, para ser atendido no Instituto dos Cegos, 
qualquer outra incapacidade adicional (por exemplo, ser portador de deficiência auditiva ou ser 
paraplégico) era impeditivo de inclusão nos programas daquela instituição, pois para eles 
existem o Instituto de Surdos e a ABBR. Se o paciente é psicótico e, além disso, está em 
cadeira de rodas, conseqüentemente não tem possibilidade de acompanhar os diversos 
programas existentes nos ambulatórios – em geral estes têm escadas ou não têm banheiros 
adaptados, pois, afinal, é um serviço para psicóticos. Ou seja, a presença de várias deficiências 
ou desvantagens torna o cliente não selecionável para o “programa” e ainda hoje o critério de 
exclusão é o hegemônico, pois a premissa de política pública aplicada durante várias décadas 
somente leva em conta “um” problema.  
Essas práticas têm como base a forte determinação nosológica ou taxonômica das 
intervenções em saúde, sobretudo a partir da influência norte-americana na formação dos 
profissionais de saúde, o chamado modelo flexneriano, implantado a partir dos anos 40 do 
século passado. Portanto, seleção e exclusão caminham juntas. 

A saúde mental é o primeiro campo da medicina em que se trabalha intensiva e 
obrigatoriamente com a interdisciplinaridade e a intersetorialidade. Quando falarmos das 
experiências inovadoras, esses dois conceitos estarão juntos. Para entendermos como 
chegamos até este ponto, colocaremos uma sistematização, menos preocupados com o rigor 
científico, mas com elementos conceituais e práticos que determinaram uma ou outra 
organização dos serviços e suas conseqüentes formas de intervenção: 
Assistência Psiquiátrica – Modelos de Atenção 
Período   Pressupostos  Serviço 
   
Até os anos 70 Preventivismo  Simplificado 
        Especialização  Hospícios 
Anos 70 – 80 Especialização  Hospícios ou AMB 
        Setorização      Especializados 
Anos 80 – 90  Racionalidade            Porta de entrada 
        Regionalização   Rede serviços regionais 
   Hierarquização   Referência / contra-referência
        Intensidade  
   
Anos 90     Território   Responsáveis regionais
        Diversificação            Único / integral
        Complexidade  Rede social  Tendência no    Inversão modelo  PSF / PACS
ano 2000     Cidade saudável  Sem serviço 
                Internação domiciliar 

Por essa sistematização, observa-se que as premissas às quais nos referimos, tais como 
seleção e conseqüente exclusão, permeiam as políticas para a área de saúde mental, desde a 
incorporação da loucura como objeto da medicina, ocorrida no século XVIII, até o início dos 
anos 90.
 E onde entra a questão da integralidade? Entram aqui questões de natureza ideológica e de 
natureza técnica. A primeira diz respeito à condenação da segregação, por ferir direitos à 
convivência e ao livre arbítrio, e a segunda, ao negar o isolamento como instrumento 
terapêutico, paradigma essencial à sobrevivência do hospício. A negação do papel do isolamento, aliada à compreensão de que o que deve ser cuidado é o 
indivíduo e seus problemas e não somente o seu diagnóstico, determinam um olhar “integral” 
da situação. A pergunta que se segue é: que modelo adotar para atender à integralidade? 
Temos acompanhado a formulação proposta por Benedetto Saraceno, diretor do Departamento 
de Saúde Mental da OMS, segundo a qual ele insiste na necessidade de se superar a idéia de 
modelos e trabalhar com premissas.A integralidade está implícita nos três indicadores propostos por ele, com destaque no menu de programas, onde assistência é apenas um dos itens obrigatórios de qualquer proposta 
abrangente, cidadã e ética.  

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